Em um cenário de lenta expansão, as pequenas e médias empresas (PMEs) surgem como protagonistas de uma retomada que vai muito além dos grandes balanços corporativos. Ao sustentarem empregos e distribuir renda em todas as regiões, essas empresas se consolidam como a espinha dorsal da recuperação econômica brasileira.
1. Importância estrutural das PMEs na economia
O papel das PMEs transcende o simples número de negócios existentes. Historicamente, esses empreendimentos respondem pela maior parte dos postos de trabalho formais no país, chegando a mais de 50% do total de empregos formais e representando cerca de 99% dos CNPJs registrados.
Elas não apenas geram vagas, mas também proporcionam inclusão produtiva e diversidade social. Ao absorverem trabalhadores de menor qualificação, jovens, mulheres e pessoas em retorno ao mercado, as PMEs espalham oportunidades para além dos grandes centros e fomentam o desenvolvimento regional.
Além disso, o desempenho agregado das PMEs costuma antecipar a dinâmica da economia, conforme demonstrado pelo alinhamento recente entre o IODE-PMEs e as projeções de crescimento do PIB. Ignorar esse segmento seria negligenciar o motor mais dinâmico da produção de renda nacional.
2. Cenário macroeconômico recente (Brasil, 2024–2026)
O contexto macroeconômico em que as PMEs operam influencia diretamente sua capacidade de investir, contratar e inovar. A seguir, destacam-se os principais elementos do período 2024–2026:
- Crescimento moderado do PIB: projeções de cerca de 2% em 2025, indicando um crescimento mais fraco que o observado no período pós-pandemia.
- Juros elevados e política monetária restritiva: a taxa básica permanece alta para controlar a inflação, mas encarece o crédito para pequenas empresas.
- Inflação em gradual desaceleração: abre espaço para futura flexibilização, mas as pressões inflacionárias seguem no radar das PMEs.
- Mercado de trabalho aquecido: desemprego abaixo das médias históricas e ganho real de renda de 4,4% até março de 2025, sustentando o consumo.
Este ambiente sinaliza desafios e oportunidades: enquanto a renda em alta sustenta a demanda interna, o custo de capital e a incerteza macroeconômica exigem cautela nos investimentos.
3. Situação e desempenho recente das PMEs (2024–2025)
Para avaliar a recuperação, o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs) oferece um termômetro mensal do faturamento real desse segmento.
Em 2025, o IODE-PMEs registrou queda de 1,2% no faturamento no primeiro trimestre em relação a igual período do ano anterior. A confiança dos empresários foi abalada pelos juros altos e pela inflação ainda presente.
No entanto, as projeções apontam para uma alta de 1,3% no faturamento ao longo de 2025, em sintonia com o desempenho moderado do PIB. Em maio, ocorreu nova retração de 2,1% na movimentação financeira média real, após recuo de 4,9% em abril; no acumulado do ano, a queda chega a 2,1%.
Esses dados revelam uma recuperação lenta e desigual entre setores, o que reforça a necessidade de políticas e práticas de gestão diferenciadas.
Enquanto serviços e indústria sofrem com o custo de capital, o comércio tem mostrado resiliência, impulsionado pela renda real em alta e pela capacidade de ajuste rápido às preferências dos consumidores.
Em comparação com grandes empresas, as PMEs enfrentam dificuldade de acesso a capital e menor poder de negociação. A recuperação dos grandes grupos costuma ser mais ágil, sustentada por linhas de crédito mais baratas e mercados externos.
4. Ambiente empresarial em 2025: aberturas, fechamentos e riscos
Apesar dos obstáculos, o otimismo empreendedor persiste. Dados do Sebrae indicam que, entre janeiro e setembro de 2025, foram abertas 3,87 milhões de novas pequenas empresas no Brasil, reflexo da busca por autonomia e inovação.
No entanto, a taxa de mortalidade empresarial também requer atenção. O cenário de juros altos e incerteza pode levar a encerramentos, sobretudo entre negócios sem planejamento financeiro ou capacidade de adaptação rápida.
- Riscos de liquidez: necessidade de fluxo de caixa saudável para honrar despesas e investimentos.
- Volatilidade de demanda: oscilações no consumo exigem flexibilidade de oferta e gestão de estoques.
- Competição intensificada: digitalização e e-commerce ampliam o leque de concorrentes.
Frente a esse panorama, gestores e formuladores de políticas públicas devem atuar com soluções integradas e ágeis.
5. Caminhos de política pública e gestão para impulsionar a recuperação
Para fortalecer o papel das PMEs na retomada, é fundamental articular medidas que reduzam gargalos e aumentem a competitividade:
- Linhas de crédito específicas: juros subsidiados, garantias compartilhadas e prazos estendidos reduzem o custo de capital.
- Programas de capacitação: treinamentos em gestão financeira, marketing digital e inovação aumentam a resiliência empresarial.
- Infraestrutura digital: expansão do acesso à internet de alta velocidade e plataformas de e-commerce amplia mercados e aprimora processos.
No âmbito da gestão interna, as PMEs podem adotar práticas que incrementem eficiência e lucratividade:
• Implementar controles de fluxo de caixa rigorosos e projeções de cenários.
• Fomentar parcerias regionais para compartilhar recursos e ampliar redes de venda.
• Investir em tecnologia acessível, como sistemas de gestão online e automação de tarefas repetitivas.
Ao combinar incentivos públicos com ações concretas de gestão, é possível criar um ambiente propício para que as PMEs se tornem vetores de desenvolvimento e gerem impactos sociais duradouros.
Mais do que números, fala-se de histórias de empreendedores que transformam desafios em oportunidades. Fortalecer as PMEs significa garantir empregos, dinamizar economias locais e construir, coletivamente, uma trajetória de crescimento sustentável.
Referências
- https://f5solucoes.com/pmes-em-2025-desafios-economicos-e-estrategias-para-o-crescimento-sustentavel/
- https://www.simmmem.org.br/pequenas-e-medias-empresas-brasileiras-enfrentaram-um-comeco-de-2025-desafiador/
- https://www.cartacapital.com.br/do-micro-ao-macro/faturamento-de-pequenas-empresas-recua-mas-projecao-para-2025-indica-alta-de-13/
- https://noticias.gs1br.org/pequenas-e-medias-empresas-devem-ter-avanco/
- https://sebraepr.com.br/impulsiona/crescimento-dos-pequenos-negocios-no-brasil-em-2025/
- https://www.gov.br/memp/pt-br/assuntos/noticias/abertura-de-empresas-cresce-14-1-no-2o-quadrimestre-de-2025-no-brasil
- https://brazileconomy.com.br/2025/05/empresariado-em-apuros-marco-registra-recorde-de-recuperacoes-judiciais-em-2025/
- https://www.fecap.br/2025/11/25/tendencias-da-economia-para-2026-ambiente-desafiador-exigira-preparo-e-disciplina-das-pequenas-e-medias-empresas-avalia-professor-da-fecap/







