Em um mundo cada vez mais interconectado, as decisões políticas transcendem fronteiras e definem o rumo dos investimentos, dos preços e das cadeias de suprimentos. Hoje, os investidores e as empresas não podem se basear apenas em indicadores econômicos tradicionais: é preciso entender a geopolítica em profundidade para navegar por águas turbulentas.
Este artigo explora os principais fatores que colocaram a geopolítica no centro das atenções dos mercados globais e oferece orientações práticas para quem deseja preparar-se para cenários incertos.
Contexto Geral
O ambiente geopolítico atual é descrito como mais complexo, imprevisível e perigoso do que nas últimas décadas. Analistas falam de uma ordem mundial em fragmentação, marcada por tensões políticas, comerciais e militares.
Atualmente, existem 59 conflitos militares ativos no mundo, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial. Esses conflitos geram riscos diretos às cadeias de suprimentos, à segurança energética, ao comércio marítimo e aos fluxos de capital.
Instituições financeiras e multilaterais apontam que os riscos geopolíticos tornaram-se determinantes centrais para o crescimento, a inflação, o comércio e o investimento global.
Macrofundo: Crescimento, Comércio e Fragmentação
Apesar dos choques repetidos, a economia global ainda cresce, mas a taxas inferiores às observadas antes da pandemia. As projeções apontam para um crescimento em torno de 3,0% em 2025 e 3,1–3,2% em 2026, frente a 3,6% de expansão em 2024.
O comércio internacional, que chegou a crescer 3,5% ao ano, deve se moderar para cerca de 2,9% no biênio 2025-26, mesmo após bater recorde de 35 trilhões de dólares em 2025.
O efeito prático dessa desaceleração é uma economia global menos eficiente, mais vulnerável a choques e sujeita a volatilidade estrutural nas cadeias de valor. A fragmentação em blocos regionais torna a coordenação multilateral mais difícil e aumenta o custo dos negócios transfronteiriços.
Rivalidade EUA–China e “Era do Desacoplamento”
A competição entre Estados Unidos e China é o eixo estrutural que definirá os mercados nos próximos anos. O que começou como guerra de tarifas transformou-se numa disputa por hegemonia em IA, semicondutores, tecnologia verde e infraestrutura crítica.
Fala-se em era do desacoplamento: restrições comerciais, controles de exportação e barreiras não tarifárias que fragmentam o sistema econômico.
- Políticas de reshoring, nearshoring e friendshoring para reduzir a dependência de rivais estratégicos.
- Sanções e controles que criam volatilidade em tecnologia e semicondutores.
- Realocação de investimentos para hubs alternativos como México e Vietnã.
Para investidores e empresas, isso significa repensar parceiros e fornecedores, estabelecendo acordos de longo prazo com mercados estáveis e diversificando riscos geográficos.
Conflitos Regionais: Ucrânia, Oriente Médio e Mar Vermelho
As crises na Ucrânia, no Oriente Médio e no Sudão aumentam o prêmio de risco de energia e afetam a segurança de rotas comerciais vitais. O Canal de Suez e o Mar Vermelho, responsáveis por 12% do comércio mundial, ficam sob ameaça constante.
A exposição a interrupções em oleodutos, gasodutos e portos eleva custos de seguro e frete, pressionando a inflação global em setores como energia, alimentos e metais.
- Choques de oferta em commodities agrícolas e energéticas.
- Adoção de rotas alternativas, com custos logísticos mais altos.
- Aumento do prêmio de risco nos mercados de capitais.
Empresas devem criar planos de continuidade de negócios, avaliando opções de estoques estratégicos e rotas de transporte alternativas.
Populismo, Nacionalismo Econômico e Protecionismo
Movimentos populistas e agendas nacionalistas reforçam medidas de proteção: tarifas, controles de capital e restrições migratórias. A lógica de segurança nacional acima da eficiência econômica prevalece em setores críticos.
Governos adotam subsídios industriais e políticas ativas em áreas estratégicas como espaço, minerais críticos e biotecnologia. Isso resulta em inflação mais alta, custos de produção elevados e crescimento global mais fraco em comparação à era da globalização acelerada.
Blocos, “Sul Global” e Países Intermediários
A fragmentação do comércio mundial cria blocos rivais: Atlântico vs. Pacífico, Ocidente vs. Oriente. Comércio intra-blocos cresce, enquanto as trocas entre esses grupos caem mais rápido.
Países intermediários, como México e Vietnã, ganham importância como pontes logísticas e produtivas entre EUA e China. Simultaneamente, o Sul Global (Ásia, África e América Latina) investe em autonomia estratégica em energia e minerais, ampliando conexões Sul–Sul.
Exemplos práticos incluem o Acordo-Quadro de Economia Digital da ASEAN, que poderá gerar 2 trilhões de dólares até 2030, e políticas de energia renovável em nações africanas, fortalecendo redes regionais de valor.
Como se Preparar para os Desafios Geopolíticos
Diante desse novo cenário, investidores e gestores devem adotar uma postura proativa:
- Monitorar continuamente indicadores de risco geopolítico com ferramentas especializadas.
- Realizar cenários de estresse para avaliar impactos em portfólios e cadeias de suprimentos.
- Investir em diversificação geográfica e setorial para reduzir exposição a conflitos específicos.
- Fortalecer parcerias locais em regiões estáveis, garantindo fontes alternativas de abastecimento.
- Implementar governança corporativa robusta para responder rapidamente a mudanças regulatórias.
Em um mundo onde sanções, disputas comerciais e crises regionais se tornam normais, a resiliência financeira e operacional é o principal ativo. Estar preparado requer visão estratégica, flexibilidade e a capacidade de transformar riscos em oportunidades de crescimento sustentável.
Ao compreender as forças geopolíticas em ação e adotar práticas de gestão de risco, empresas e investidores podem não apenas mitigar perdas, mas também identificar novos mercados e inovar em áreas críticas para o futuro.
O impacto da geopolítica nos mercados globais é profundo e duradouro. Quem estiver pronto para navegar nesse mar de incertezas terá vantagem competitiva e estará capacitado para contribuir com um sistema econômico mais resiliente e justo.
Referências
- https://www.wellington.com/es-es/inversores-profesionales/perspectivas/geopolitica-en-2025
- https://www.mapfre.com/actualidad/economia/riesgos-economia-mundial-2025/
- https://www.coface.es/noticias-economia-insights/riesgo-politico-y-social-una-nueva-era-de-inestabilidad
- https://www.realinstitutoelcano.org/analisis/resiliencia-y-fragilidad-las-dos-caras-de-la-economia-mundial/
- https://empresaexterior.com/art/100662/el-comercio-global-rompe-records-en-2025-con-35-billones-de-dolares-pese-al-shock-arancelario-y-el-auge-del-proteccionismo
- https://amec.es/anticipate/alertas-y-oportunidades/perspectivas-economicas-globales-2024-y-2025/
- https://www.estrategiasdeinversion.com/fondos/geopolitica-en-2025-riesgos-oportunidades-y-mayor-n-790243
- https://www.emec.org.uk
- https://www.tendencias.kpmg.es/2025/12/entre-geopolitica-geoeconomia/
- https://www.caixabankresearch.com/es/geopolitica-e-inteligencia-artificial-nueva-carrera-hegemonia-global
- https://www.fundssociety.com/es/noticias/mercados/2025-un-ano-excepcional-para-los-mercados-a-pesar-de-la-incertidumbre-geopolitica/
- https://empresaexterior.com/art/97113/foro-la-geopolitica-y-su-impacto-en-la-economia-en-2025-principales-factores-geopoliticos
- https://novedadeseconomicas.ieral.org/el-mundo-empezo-a-cambiar-en-2025-de-la-mano-de-la-geopolitica-sin-reversion-a-la-vista/
- https://www.santander.com/es/sala-de-comunicacion/the-year-ahead-2025/vision-global
- https://www.bbvaresearch.com/publicaciones/global-la-geopolitica-llega-para-quedarse/
- https://cincodias.elpais.com/opinion/2025-12-19/la-rentabilidad-de-la-incertidumbre-geopolitica-para-la-empresa-espanola-en-2026.html







